Tenho um sapato novo.
O sapato aperta, machuca, faz sangrar.
Eu sofro, faço caretas, ofendo o objeto.
Amaldiçoo, ofendo, xingo sua mãe imaginária com palavras indizíveis, impronunciáveis por bocas de respeito e pessoas de boa educação.
Em gestos vexatórios vou manquitolando aqui e acolá, sentindo-me motivo de chacota dos transeuntes enquanto procuro um lugar de repouso para sarar minha dor.
Mas por que sempre passamos por este sofrimento?
Lembro-me do meu sapato velho, foi a mesma coisa.
As mesmas dores, as mesmas situações, os mesmo xingamentos mas hoje em dia eu o adoro. Sinto-me até triste e um pouco encabulado por trocá-lo assim, por um que é três anos mais novo, mas a vida é assim.
Hoje meu sapato novo me machuca e eu o odeio.
Mas com o tempo, o convívio sua dureza e rispidez se dissipará e ele será um sapato macio e confortável. Passarei então á amá-lo e a sentir saudades quando o dia em que um novo par de sapatos tomará o seu lugar...
Aprendi que não podemos andar descalços por muito tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário