terça-feira, 14 de agosto de 2007

O sapato novo

Tenho um sapato novo.

O sapato aperta, machuca, faz sangrar.

Eu sofro, faço caretas, ofendo o objeto.

Amaldiçoo, ofendo, xingo sua mãe imaginária com palavras indizíveis, impronunciáveis por bocas de respeito e pessoas de boa educação.

Em gestos vexatórios vou manquitolando aqui e acolá, sentindo-me motivo de chacota dos transeuntes enquanto procuro um lugar de repouso para sarar minha dor.

Mas por que sempre passamos por este sofrimento?

Lembro-me do meu sapato velho, foi a mesma coisa.

As mesmas dores, as mesmas situações, os mesmo xingamentos mas hoje em dia eu o adoro. Sinto-me até triste e um pouco encabulado por trocá-lo assim, por um que é três anos mais novo, mas a vida é assim.

Hoje meu sapato novo me machuca e eu o odeio.

Mas com o tempo, o convívio sua dureza e rispidez se dissipará e ele será um sapato macio e confortável. Passarei então á amá-lo e a sentir saudades quando o dia em que um novo par de sapatos tomará o seu lugar...

Aprendi que não podemos andar descalços por muito tempo.

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