quarta-feira, 2 de junho de 2010

Tithonus e o Vampiro


Por estes dias revi o maravilhoso "A Sombra do Vampiro", filme de 1 década atrás , dirigido maestralmente por E. Elias Merighe e sempre me lembrava de um poema que o vampiro, hipnóticamente trabalhado por Willem Dafoe lia numa das cenas mais poéticas do filme.

Depois de muito pesquisar acabei encontrando o tal poema em que ele recitava "the woods decay and fall..." e "all I was in ashes". Somente essas 2 breves passagens conotavam uma melancolia como eu jamais havia lido desde o maravilhoso "Os Homens Ocos" do inigualável T.S. Elliot.

Acabei descobrindo que tratava-se do poema "Tithonus" de Alfred Lord Tennyson e trata-se do lamento de Títono, personagem mitológico que fora tornado imortal por sua amada Eos ( a madrugada) mas sem conceder-lhe a juventude eterna. Um velho e melancólico Títono implora a sua amada que o liberte e o deixe morrer.

Na mitologia, Títono envelhece de tal maneira que Eos o prende em um quarto escuro onde ele acaba por tornar-se em uma cigarra.

Tentei em vão achar versões em português do poema, mas fui obrigado - para postar aqui- a traduzir eu mesmo e peço perdão pelos óbvios erros, afinal, não sou poeta.

Títono e Eos

Tithonus- Lord Tennyson

As árvores apodrecem, as árvores apodrecem e caem
Os vapores choram seu calor para o chão,

O homem chega ao solo e deita-se sobre ele,
E após muitos verões o cisne morre.
Minha cruel e única imortalidade
Consome-me: Eu deito-me vagarosamente em vossos braços,
Aqui no silencioso limite do mundo,
Uma sombra de cabelos brancos vagando como um sonho
Pelos espaços eternamente quietos do leste,
Nas névoas longínquas e brilhantes palácios da manhã.

Pobre de mim! pois esta sombra cinzenta, outrora um homem-

Tão glorioso em sua beleza e vossa escolha,

Que o fez teu escolhido, que ele parecia

Em seu coração igual a não outro senão a Deus!

Vos pedi, “Dai-me imortalidade”.

Então vós a deste perguntando-me com um sorriso,

como homens ricos que não se importam com o quanto gastam.
Mas vosso poderoso tempo indigno executou os teus caprichos

E me derrubou-me ao solo e me estragou e me destruiu,

E mesmo que não pudessem acabar comigo, deixaram-me mutilado

Para vagar na presença da juventude imortal,

Idade imortal longe da juventude imortal

E tudo o que fui são cinzas. Poderia vosso amor,

Vossa beleza, fazer concessões, mesmo que mesmo agora

Perto de nós, a estrela prateada, vossa guia,

Brilha com aqueles olhos trêmulos cheios de lágrimas

para me escutar? Deixa-me ir: Pega de volta vosso presente:

Por que, de qualquer maneira, desejaria o homem

Ser diferente da raça humana,

Ou passar além do objetivo ordinário

Onde tudo deve parar, assim como com todos?

Um vento suave divide as nuvens; alí vem

Uma lembrança daquele mundo obscuro no qual nasci.

Uma vez mais o brilho misterioso é levado

De tua pura fronte, e de teus ombros puros,

E peitos batendo com um coração renovado.

Vossa face enrubrece através da melancolia,

Vosso doce olhar brilha vagarosamente perto ao meu,

Ainda assim eles cegam as estrelas, e os selvagens

Que te amam, clamando por vosso jugo, erga-se,

E sacuda a escuridão de seus fracos eus,

E derrote o crepúsculo em flocos de fogo.

Veja! Mesmo com tua beleza crescente

Em silêncio, então antes da resposta ser dada

Partistes, e vossas lágrimas ficaram no meu rosto.

Por quê vós me assustais com tuas lágrimas,

E faze-me tremer para que um sábio provérbio,

De dias longínquos, de terras obscuras, torne-se real?

“Os próprios deuses não podem retomar os seus presentes”.

Pobre de mim! Pobre de mim! com qual outro coração

Em dias longínquos, e com quais outros olhos

Eu costumava olhar – Se não fosse ele que me olhava

Aquele linha lúcida formando-se ao seu redor, via

Os raios de luz tornando-se em anéis solares;

Mudando com vossa mística mudança, e sentia o meu sangue

Brilhar com o brilho que vagarosamente encobria tudo

Vossa presença e vosso portal, enquanto me deito,

Boca, testa, cílios, crescendo e acalentando

Com beijos mais balsâmicos que gomos abertos

De flores de Abril, e podia ouvir os beijos que beijavam

Sussurrando que eu não conhecia o selvagem e o doce,

Como aquela estranha música que ouvi Apollo cantar,

Enquanto Ilion como uma névoa cresceu em torres.

Ainda assim não me segure eternamente em vosso leste:

Como poderia minha natureza ainda mesclar-se com a vossa?

Friamente vossas sombras róseas banham-me, frias

São todas as vossas luzes, e congelam meus pés enrugados

Sobre vossas reluzentes fortalezas, quando o vapor

Flutua sobre aqueles campos e sobre as casas

De homens felizes que possuem o poder de morrer,

E sobre verdejantes campos de felizes mortos.

Liberta-me e devolva-me ao pó;

Vós vês tudo, tu viste minha sepultura:

Vós renovareis vossa beleza tristeza após tristeza,

Eu vago na Terra esquecendo desses palácios vazios

Enquanto vós sempre retornarás em carruagens de prata.


Até a próxima.

2 comentários:

Anônimo disse...

Esplêndido!

Anônimo disse...

belissimo ! parabéns pela tradução !