sábado, 19 de junho de 2010

Aquele Homem

Aquele homem está parado horas olhando para o vazio.

Ele engole seco, tenta fazer o nó na garganta descer.

Seus olhos estão quentes, úmidos. Ele tenta segurar as lágrimas.

Sua expressão é severa, tentando disfarçar a dor com austeridade.

Aquele homem está perdido, porém nem tanto.

Existem caminhos para seguir, decisões a tomar porém ele ainda exita.

Ele sabe que está condenado, que irá entrar numa Guerra a qual ele com certeza perderá.

Não existe piedade para aquele homem.

Ele é um homem mau. É um bom homem, mas seus pensamentos são macabros, ele odeia, ele culpa, ele quer ver cabeças rolarem... sua maldade não está na personalidade mas nos desejos.

O desejo o enlouquece.

O desejo da carne, o desejo do sorriso, do trago de felicidade inalcansável.

Aquele homem é um perdedor.

Está destinado a perder eternamente a luta.

Ele é um Lúcifer de carne, destinado a batalhar mas no final sempre irá ser derrotado. Está escrito. Selá.

Aquele homem carrega todo o amor do mundo no peito.

Aquele homem carrega todo o ódio que poderia sentir em sua mente.

Aquele homem está cheio de rancor e dor.

Ele sonha. Os sonhos o destroem.

Afinal, qual o mal em sonhar?

Os sonhos o levam para o mundo de faz de conta, para a fantasia pura e etérea onde amores são eternos, onde olhares são palavras, onde risos são a salvação do espírito humano.

Dinheiros, contratos de posse humana, anseio por um afeto financiado que deveria ser, ao menos em sua mente, gratuito e autruísta.

O que fará aquele homem? Para onde irá?

Ele teme vagar por uma estrada infinita, sem destino, sem descanso, sem uma mão para segurar a sua.

Mais que tudo, aquele homem teme perder uma vida.

Não a sua, mas a vida que ajudou a criar.

A vida que o ajuda a conservar o pouco que resta da sua sanidade, a conservar o pouco que resta de sua bondade e inocência.

Aquele pequeno ser humano é o frágil elo que o separa do mundo ordinário.

Um pequeno ser humano é o pastor do pequeno homem.

Os medos o dominam, ele se sente sem opções.

Em seus sonhos ele escuta: "Serei sua âncora".

Ao acordar ele percebe que era apenas o eco de suas fantasias.

Não existem âncoras no mundo real e o oceano é sempre revolto.

Aquele homem tenta não chorar.

As lágrimas parecem ignorá-lo.

Seu coração está ardendo, o calor atravessa o corpo.

Seu coração bate forte, a imagem revelada bomba a adrenalina.

A droga é passageira, a droga é ilusória.

A droga perfeita ignora.

Aquele homem deixa-se perseguir por fantasmas.

Onde quer que vá, onde quer que olhe, o que quer que faça, ele sempre vê a imagem etérea e efêmera, intocável, inalcansável...

Como o gato de Lewis Carroll, o fantasma se esvanece deixando apenas no ar o sorriso que o assombra.

Aquele homem desconta suas frustrações nos braços de Bacco.

O deus pagão parece ser o único que o entende e o faz seguir em frente, de copo em copo.

Deixo estas palavras para que pensem naquele homem.

Que destino cruel ou benéfico pode aguardá-lo.

Eu não sei, eu não posso dizer que de fato conheço aquele homem.

Eu não sei quem é aquele homem, aquele homem ainda não sabe ao certo quem ele é.

Torçamos.


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